A segurança urbana sob a óptica preditiva vem cada vez mais sendo valorizada no país e em cidades populosas e socio diversificadas como São Paulo. O planejamento urbano com soluções integradas de segurança tem sido cada vez mais valorizado em detrimento de soluções intramuros e reativas apenas. Mundo à fora já vemos estudos de caso, laboratórios e experiencias práticas que desenvolvem metodologias nas quais a segurança não é sinônimo de enclave, mas de inclusão. Então como pensar e desenvolver segurança de modo que ela envolva a todos? Nas cidades, o diagnóstico é o “crime de oportunidade”. Então, o que podemos fazer para dar menos oportunidade ao crime?
Tendo essas perguntas em mente e sabendo da realidade urbana de cidades como São Paulo, é que organizamos o evento Safe Cities (Cidades seguranças). O evento foi a materialização de um compromisso com avanços metodológicos da segurança que, acreditamos, passa pela ideia de que “segurança é dever e responsabilidade de todos”, como prevê nossa Constituição Federal. Sendo assim, a segurança deve ser planejada, discutida e construída sob um olhar plural. Por isso, reunimos nos dias 30 e 31 de outubro de 2023, no Teatro Sérgio Cardoso na cidade de São Paulo, autoridades públicas de diferentes segmentos da segurança e do planejamento urbano, e profissionais membros da The International Crime Prevention Through Environmental Design Association (ICA), verdadeiros especialistas no planejamento de segurança voltado para o desenho urbano. O intuito não apenas foi apresentar exemplos práticos, em desenvolvimento e estudos teóricos sobre o tema, mas construir um espaço de interlocução com o público interessado no planejamento urbano inteligente e no desenvolvimento de metodologias sustentáveis de segurança. Por isso o evento Safe Cities foi de fato um momento de troca de experiências.
Embora seja observado um avanço e essa disposição em construir segurança de forma coletiva, ainda é muito comum que em se tratando do desenvolvimento de políticas urbanísticas e de segurança pública, o modelo tradicional reativo seja valorizado em detrimento de outros. Neste sentido, o evento teve por fim uma espécie de quebra de paradigmas. Os painéis e discussões apresentadas, por exemplo, lançaram luz sobre conexões nem sempre auto evidentes, mas imprescindíveis, tais como: segurança vista pelo viés da zeladoria (do cuidado e da manutenção); segurança e diversidade sociocultural; segurança e diversidade psicossocial; segurança e sustentabilidade. Se iniciei este texto falando em diagnóstico, o evento sinalizou a prescrição: análise e conhecimento dos cenários urbanos e suas diferentes composições socioculturais, ambientais e psicossociais, se queremos modelos de segurança integrada e que se sustente no tempo e no espaço.
Mas é preciso delinear um foco para tamanho planejamento. O que nossos colaboradores e palestrantes tem demonstrado, é que a segurança precisa ser vista como serviço para e com a sociedade, e não um custo. Por isso, falamos em segurança comunitária, que é aquela que convida (e não afasta) a sociedade para contribuir e participar das discussões. O foco comum deve ser a cidade, o tema, como nunca antes vimos, deve ser a segurança sustentável.
Com satisfação, que na posição de Diretor de Operações do CPTED Brasil, pude participar do planejamento deste grande evento internacional ao lado de Percival Barboza, o presidente do CPTED Brasil. Junto com demais integrantes da equipe CPTED, recebemos acadêmicos de renome, líderes de institutos de pesquisa internacionais dedicados em desenvolver segurança pelo conhecimento. Especial agradecimento a Macarena Rau Vargas (Presidente da ICA); Tinus Kruger (Vice-Presidente da ICA) e aos demais membros da ICA: Gerard Cleveland, Randy Atlas, Mateja Mihinjac e Barry Davidson. Essa foi a primeira edição do Safe Cities no Brasil.
Por George Kayzer
Engenheiro, com Pós-Graduação em Gestão e Engenharia de Segurança, Docente e Pesquisador na Área de Segurança, Consultor Sênior, Fundador da GK Safety & Security. Possui especialidade em diretrizes, normas e manuais que tratam de procedimentos de segurança operacional e análises de risco.